Como a arquitetura pode incentivar clientes a consumir

De modo geral, quando se pensa em arquitetura lembramos dos desenhos gráficos, volumetrias, criatividade e obras emblemáticas, e realmente esses são elementos que caracterizam muito a profissão. Porém, para a tomada de decisões de um projeto, é necessário abordar outros aspectos que vão além dos condicionantes técnicos. É primordial alinhar as competências técnicas com as expectativas e desejos dos clientes e usuários de um determinado ambiente.

Na arquitetura comercial, por exemplo, essas decisões focam em intensificar a experiência que a arquitetura pode proporcionar ao consumidor, buscando criar uma ligação emocional entre a marca e o cliente. Fazer uma boa leitura dos comportamentos, anseios e desejos dos consumidores é muito importante para fidelizá-los e para que tenham uma experiência extraordinária de compra.

Falando em experiência do usuário, este é um aspecto que as novas gerações valorizam muito, pois são consumidores sensíveis e que estão em constante mutabilidade, sempre aspirando por inovação e criatividade. Quando vão em busca de algum produto, pesquisam muito sobre o que vão adquirir, buscam informações com usuários que já consumiram e feedbacks na internet. Por serem consumidores mais informados, exigem uma atenção maior dentro das lojas físicas, principalmente se a publicidade do produto e o feedback forem bons, a expectativa é de encontrar um ambiente que esteja de acordo com tudo aquilo que foi pesquisado anteriormente. Ou seja, é primordial que o produto converse de uma maneira clara com o consumidor e com o ambiente em que ele está exposto para complementar a experiência do cliente.

Além disso, o novo consumidor dos estabelecimentos comerciais não vai mais às compras sozinho, junto leva o seu inseparável smartphone que facilmente tira fotos dos produtos e do ambiente, podendo compartilhar com seus amigos e postar nas redes sociais, gerando assim mídia espontânea para o seu estabelecimento.

Ou seja, além de marketing e promoções para aumentar a visibilidade do seu negócio, aproveitar-se da arquitetura para incentivar o consumo é uma estratégia que muitas vezes pode ser usada facilmente. Nem sempre é preciso fazer grandes reformas para melhorar os ambientes, pequenas mudanças de layout ajudam a otimizar e organizar os espaços gerando uma aparência melhor e com certeza causam um impacto bastante positivo na percepção do consumidor.

Mas então, como a arquitetura pode incentivar os clientes a consumir?

Abaixo vou descrever algumas etapas que são importantes para propiciar uma jornada melhor ao consumidor em uma loja:

Antes de entrar: a sua marca é única

O estudo da localização do ponto é imprescindível para alguns negócios e determinante para o sucesso de alguns nichos de mercado, focando em qual público pretende atingir e qualificando o fluxo de pessoas naquela zona, isto já pode gerar um significativo movimento. Neste primeiro momento, um arquiteto já pode estar presente, pois ele tem facilidade em compreender os espaços, imaginar os usos em determinados ambientes, além de fazer uma leitura das possíveis intervenções de obra otimizando os gastos na hora da reforma.

Mas é na organização do seu negócio e na identificação dos aspectos arquitetônicos relevantes para determinado mercado que ele se faz imprescindível. Não existem regras para serem aplicadas na arquitetura de varejo, cada negócio deve refletir o posicionamento da marca, criando um estilo próprio e que se conecte emocionalmente com os clientes. Atrair a atenção para o seu negócio já é um grande passo para aumentar o número de vendas, a sua marca pode estar impressa desde a fachada e vitrine do seu negócio, usando os elementos certos de iluminação e letreiro, fazendo com que o cliente se sinta seduzido mesmo sem ter entrado, como no caso da loja Egrey em São Paulo em que a fachada expressa um ar minimalista e instigante. À medida que o cliente passa na calçada e se depara com um jogo de luzes mais cálidas na parte interna, se sente convidado a entrar na loja. 

Entrando: o portal

O adentrar no ambiente também é um momento que deve receber atenção. Para evitar sensações negativas num primeiro momento deve-se cuidar o fluxo de clientes e evitar situações de aglomerações geradas na entrada que causam um certo desconforto.

A entrada deve servir como um “portal”, onde o cliente vai desacelerando e deixando do lado de fora os estímulos que recebeu até então, como o barulho no trânsito, os odores da cidade e outros estímulos negativos, para que ele possa se ambientar e focar nos produtos.

Complementando essa estratégia, uma ótima alternativa é deixar os produtos mais recuados, como na loja Acolá (exemplo abaixo) onde na primeira parte da loja existe um amplo espaço e sem muito informação, apenas mais para frente é que se encontram os expositores com as peças a venda.

Lá dentro: momento único

Não pense que tudo está ganho se o seu cliente já está dentro da loja. Abusar dos conceitos de arquitetura sensorial pode ser um grande diferencial para incentivar o consumo.

O infográfico abaixo representa um estudo apresentado pela revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios demonstrando a influência dos sentidos na tomada de decisão do consumidor:


Fonte: Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios

Enfatizando o que vem sendo comentado no decorrer do texto, a visão é o que mais influencia o consumidor a se decidir, por isso é tão relevante a estética do seu negócio. Além disso, na arquitetura comercial é muito possível trabalhar com materiais lúdicos que mexem com a imaginação e remetem o cliente a um outro lugar. Na loja da Farm, localizada num dos edifícios do escritório Triptyque em São Paulo, isso foi muito bem trabalhado, tanto na parte externa que é cheia de vegetação como na parte interna, onde foi aplicada uma grama sintética intensificando a ideia de natureza.

Outro fator importante que influencia o comportamento do cliente é a audição, o único sentido que não temos controle, pois sempre estamos ouvindo algum som, por isso existem empresas especializadas que fazem estudo da identidade da marca relacionada às experiências sonoras. Sendo assim, a música que está tocando no ambiente do seu negócio pode estimular o cliente a ir embora ou a ficar mais tempo e ainda num volume adequado é possível que os vendedores sejam mais persuasivos.

Envolver o cliente em uma experiência com aromas, iluminação, tato, olfato, sons, etc. que gerem sentimentos que farão ele lembrar daquele momento único e pensar em pequenas estratégias que deixem o cliente mais à vontade na hora de fazer as compras pode dar um resultado positivo bastante significativo. Ele irá lembrar daquele momento, de como se sentiu bem naquele lugar e sem dúvidas irá retornar.

Arquiteta e Urbanista

Taís Nicolacópulos é arquiteta especialista em Design Estratégico. Nascida no interior do Rio Grande do Sul, morou em Porto Alegre, estudou arquitetura na Argentina e agora é residente em Florianópolis. É movida pela curiosidade e apaixonada por arquitetura, viagens, cultura e inovação. Sócia-fundadora do Bloco Z Arquitetura, atua há mais de 8 anos auxiliando pessoas e empresas a tirarem suas ideias do papel através da arquitetura e do design.

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